Sakura, a flor de Cerejeira


As cerejeiras, conhecidas como sakura em japonês, são muito mais do que uma simples árvore ornamental. Elas carregam uma rica história e simbolismo há séculos. Essas árvores deslumbrantes tornaram-se um ícone cultural profundamente arraigado na sociedade japonesa.


Lendas e Origens


As origens das cerejeiras estão imersas em lendas intrigantes. Uma delas narra que a princesa Konohana Sakuya Hime caiu do céu próxima ao monte Fuji, transformando-se na deslumbrante flor. Outra lenda relaciona a flor ao cultivo de arroz, base da culinária japonesa e também considerada uma dádiva.


A primeira menção escrita conhecida das flores de cerejeira remonta ao ano 712, registrado no Kojiki, durante o governo da Imperatriz Gemmei. O Kojiki é uma compilação de canções e narrativas orais.


”O Kojiki é um texto japonês que foi compilado pelo cortesão Ô no Yasumaro e entregue à Imperatriz Genmei em 712. Essa versão final do livro foi resultado da revitalização de um projeto iniciado durante o governo do Imperador Tenmu, no final do século VII. O objetivo principal era revisar as fontes históricas disponíveis até então sobre genealogias e mitos da dinastia reinante e das famílias nobres aliadas, promovendo o ideal de um comando absoluto do clã Yamato sobre outros clãs do reino.

No prefácio do livro, é mencionado que a primeira pessoa encarregada de compor o Kojiki foi Hieda no Are, uma figura enigmática que era conhecida por sua memória excepcional e habilidades. No entanto, o método exato que Are usou para reunir as tradições orais e histórias do reino não é claro. Da mesma forma, não temos detalhes precisos sobre como Yasumaro continuou o trabalho de Are.

Quando finalmente chegou às mãos da Imperatriz, o Kojiki estava dividido em três volumes principais: o primeiro reconta os mitos fundadores do Japão, situados em um passado distante e protagonizados pelas deidades do panteão xintoísta; o segundo aborda os feitos heroicos de dominação realizados pelos primeiros imperadores, ainda em um contexto mitológico; e o último volume descreve os reinados de líderes cuja existência histórica parece ser comprovada pela arqueologia.”

(Tradução comentada do KOJIKI - Bruno Zitto - UFRGS)


Muitos ascendiam às montanhas durante a primavera para cultuar essas árvores pois eram consideradas sagradas, portadoras das almas dos deuses das montanhas. A crença era de que, a cada primavera, a divindade da montanha migrava para os campos nas pétalas caídas. Dessa forma, os rituais de apreciação das flores de sakura originaram-se dos rituais religiosos.


A partir do século VIII, os japoneses começaram o transporte das árvores de cerejeiras das montanhas para áreas habitadas, pois a flor já havia se tornado intrinsecamente conectada às crenças da população japonesa.

Simbolismo


Devido à efemeridade das flores, elas frequentemente são empregadas como um tributo aos guerreiros e guerreiras no Japão, que frequentemente perdem suas vidas durante o auge de sua beleza e força, como os Samurais e posteriormente, os Kamikazes.


No Santuário Yasukuni, localizado em Tóquio, milhares de cerejeiras foram plantadas em memória dos soldados que perderam a vida desde o período Meiji. Esse santuário, que ocasionalmente recebe visitas do imperador, é um memorial dedicado especificamente a esses soldados falecidos. Acredita-se que as flores proporcionem consolo às almas dos guerreiros.



O expansionismo japonês conduziu o país a conquistar diversas regiões na Ásia e a se envolver em confrontos com outras nações durante a II Guerra Mundial. O término da era dos Samurais assinala o começo do imperialismo japonês no continente asiático ao longo do século XIX, e consequentemente, transforma a  representação da Sakura, tornando-a símbolo dos Kamikazes.


“Em pouco mais de uma geração, os líderes japoneses tinham transformado secreta e imperceptivelmente as flores de cerejeira ―que passaram mais de 2.000 anos sendo um símbolo de paz―em flores de destruição”. Escreve Naoko Abe em O homem que salvou as cerejeiras.

“As flores de cerejeira estão profundamente arraigadas na mentalidade dos japoneses”, afirma Naoko em entrevista por videoconferência. “É algo muito emocionante e bonito. As pessoas amam as flores. E as flores têm muitos significados: são um símbolo da beleza, do amor, de paz, mas também tiveram outras leituras. O simbolismo pode ir do positivo ao negativo. E foi isso que ocorreu durante a guerra: transformou-se completamente sem que ninguém se desse realmente conta, dadas as circunstâncias da época. Por isso achei importante mostrar como isso ocorreu, porque é uma transformação que não foi muito estudada”.

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A Jornada de Collingwood Ingram


A história das sakuras não seria completa sem mencionar Collingwood Ingram, um inglês que nutria uma paixão intensa por essas árvores. Ingram, conhecido como "o homem que salvou as cerejeiras", preservou espécies silvestres que haviam desaparecido do Japão, em seu jardim no Kent. Isso foi importantíssimo para preservação da Sakura, pois após a II Guerra Mundial o país estava destruído, inclusive as cerejeiras, mas Ingram obtinha 129 espécies vivas, graças à sua obsessão.


A Celebração Anual - Hanami


A floração das cerejeiras é celebrada com entusiasmo no Japão. Durante esse período, as árvores de sakura enchem parques e jardins, e a cultura se estende a chocolates, biscoitos, roupas e até bebidas temáticas. A beleza efêmera das flores inspira diversas formas de expressão artística, da pintura à música pop.

Existem previsões das floradas nos locais mais visitados para que os japoneses possam desfrutar o Hanami do melhor local.

As sakuras perseveram e florescem após a adversidade, nos inspirando. Transmitem uma mensagem poderosa de resiliência.


Mas sua presença não é significativa apenas lá. No início do século 20, o governo japonês presenteou diversos países, incluindo Estados Unidos e Brasil, com mudas de cerejeiras como símbolo de amizade e paz. Hoje, cidades como Washington D.C. e Curitiba também realizam festivais anuais para celebrar a beleza dessas flores e a relação entre as nações.

Patrimônio Cultural Vivo


As cerejeiras não são apenas árvores; elas representam uma rica herança cultural japonesa. Sua história é contada através de lendas, arte e celebrações anuais que conectam as gerações e expressam os valores da nação.


Assim, as flores de cerejeira permanecem como um lembrete vivo da efemeridade da vida, da esperança que persiste mesmo nas situações mais sombrias e da beleza eterna que pode ser encontrada na natureza e na cultura japonesa.


Festa das cerejeiras no Parque do Carmo - SP